Tática e o rendimento |
REVISTA CONTRA-RELÓGIO
ANO 6 – Nº 63 – DEZEMBRO 98
A Tática e o Rendimento nas Provas de Resistência
Antonio Carlos Gomes, Phd. Em nosso último artigo, na edição de setembro, discutimos o controle da intensidade de treinamento, utilizando a freqüência cardíaca como um indicador pedagógico para a dosagem da intensidade do treino. Os fatores fisiológicos não são os únicos que determinam a capacidade de rendimento nas provas de resistência, sendo necessário o uso de outros aspectos para melhorar o resultado desportivo. A nossa referência é para o treinamento e controle da tática na corrida, abordando a distribuição da energia durante a atividade competitiva, o que afeta diretamente a velocidade média de competição é a economia de corrida. Na seqüência vamos expor as nossas experiências de estudos com fundistas de alto nível, aproveitando os relatos do pesquisador russo (Utkin, V L. 1988) que estudou nove variantes de controle da dinâmica da velocidade nas provas de fundo. Destacaremos as oito variantes utilizadas com mais freqüência.
1ª variante
A velocidade (ritmo) de competição deve se manter estável ao longo de toda a prova. A velocidade aqui deve ser uniforme, com uma variação máxima de 3%. Este valor é perfeitamente acessível para atletas de nível médio, sendo que para os grandes campeões esta variação não deve ultrapassar a 1%. O início da maioria das provas apresentam ritmos de forma crescente, até que o atleta atinja o ritmo competitivo normal. Este modelo é o ideal para corredores de 100 m, apesar de ser muito utilizado por maratonistas; os mesmos, ao conhecerem o ritmo da corrida, passam a distribuí-lo durante todo o percurso. Um exemplo concreto foi a maratona corrida por Densino ao atingir o ex-recorde mundial (2:06:50) em Roterdã (1988, com um ritmo uniforme.
2ª variante
A velocidade de competição cresce inicialmente e depois diminui gradativamente até o final da prova. Esta dinâmica é muito comum nas provas anaeróbicas láticas, como é o caso dos 200 e 400m. Podemos confirmar está variante com o atleta Quirot na final de 400m na 5ª Copa do Mundo de Atletismo (Barcelona 1991).
Tempo de passagem e velocidade
3ª variante
A velocidade de competição aumenta e diminui constantemente durante todo 0 percurso. Said Aouita (Marrocos) bateu o recorde mundial dos 5.000m em 87, estabelecendo a marca de 12:58.39 e o comportamento da velocidade foi a demonstrada a seguir:
Tempo de passagens e velocidade
4ª variante
Nesta, a velocidade de competição no início da prova é superior à média e no final da prova volta a crescer. É um comportamento tático muito utilizado nas provas de meio fundo e fundo. O final da prova feminina de 1.500 m na Olimpíada de Barcelona (1992) é um exemplo dessa variante, através da argelina Boulmerka.
400 m 1:00.8 6,58 m/s
5ª variante
A velocidade nesta variante cresce continuamente durante todo o percurso; um exemplo desta dinâmica pode ser observada na prova de 3.000 m do atleta M. Kiptanui quando estabeleceu o recorde mundial em pista coberta (Sevilla 1992).
1000 m 2:37.0 2:37.0
6ª variante
Apresenta um aumento da velocidade no inicio, posteriormente diminui durante grande parte do percurso e no final volta a crescer. Este comportamento é muito comum nas provas de 800 m, principalmente quando 0 objetivo do atleta é não correr pelo recorde e sim apenas se preocupa em vencer a prova.
7ª variante
A velocidade de competição apresenta dois estágios: no início, um ritmo mais alto do que na segunda parte da prova. P. Ruto (Quênia) apresentou esta dinâmica na prova final de 800 m no Mundial de 1993.
200 m 24.74 8,08 m/s
8ª variante
A velocidade de competição é constante na primeira parte, mas cresce na segunda e final. Um atleta que demonstrou esta variante tática foi Gebrselassie (Etiópia) quando estabeleceu o recorde mundial dos 5.000 m (12:56.96).
1000 m 2:36.6 6,39 m/s Apresentamos uma série de variantes táticas utilizadas por atletas de todo 0 mundo. As mais utilizadas nas provas de meio fundo e fundo são as variantes G, 7, 8 e 9 e isso depende do nível de preparação do atleta ou mesmo de suas características genéticas, tanto no aspecto biológico como psicológico. Alguns estudos mostram que determinados atletas procuram estudar a dinâmica da velocidade de seus futuros adversários e, com base nisso, estruturam suas estratégias, procurando respeitar suas condições de preparação morfofuncional. Antonio Carlos Gomes é professor doutor da Universidade Estadual de Londrina, Paraná. |