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Os genes não determinam o destino

 
 

A influência de determinado gene sobre o organismo depende em grande parte de suas interações com os estímulos do mundo exterior. Isso se justifica ainda mais pelo fato de que estamos nos referindo ao cérebro e ao sistema nervoso, nos quais, em ultima analise, se decide sobre felicidade e infelicidade.

O neurobiólogo Michael Meaney, da universidade canadense McGill, demonstrou em um experimento com ratos recém-nascidos como a primeira infância é um importante para a maneira como as situações difíceis serão enfrentadas no futuro. Filhotes que haviam sido bastante lambidos e acarinhados pelas mães suportaram muito mais estresse na fase adulta do que aqueles que não tinham recebidos muito mais desses cuidados. Isso decorreu exclusivamente do tratamento que lhes fora dispensado durante a infância, e não dos genes. Esse fato ficou claro para Meaney quando ele trocou os bebes: as mães mais dedicadas foram encarregadas de cuidar dos filhotes das mães relapsas. Na idade adulta, esses ratos apresentaram uma saúde de ferro. Por outro lado, os filhotes das mães zelosas, que haviam passado aos precários cuidados das mães substitutas, tornaram-se no futuro animais predispostos a doenças, embora possuíssem uma disposição genética supostamente favorável.

Genes, portanto, não equivalem ao destino. Diferentemente do que ocorre com ratos, às pessoas não são marcadas para sempre pela primeira infância. Foi o que o neurofisiologista Richard Davidson observou ao examinar crianças em idade escolar cujas correntes cerebrais ele medira dez anos antes, quando elas ainda eram bebes. Os antigos padrões de sua atividade cerebral haviam mudado. Muitas das crianças que anteriormente tinham apresentado a predominância da atividade cerebral no lóbulo frontal esquerdo a transferiram para o lado direito, e vice-versa. Isso mostra que o temperamento delas fora alterado pelas experiências que viveram no período entre os dois exames.

Mesmo na idade adulta o cérebro ainda pode se modificar. Às vezes, o estimulo para isso vem do mundo exterior – há experiências capazes de mudar a nossa forma de encarar a vida. Mas o cérebro consegue coisas ainda mais fantásticas: ele é capaz de se reprogramar.

Esse treinamento psíquico talvez seja a única explicação plausível para o máximo de atividade do lado esquerdo do cérebro medido por Davidson em duas décadas de pesquisa. Ele obteve esse registro com o exame de um monge tibetano, trazido especialmente da Ásia, que dedicara mais de dez mil horas a meditação.

 

Do livro: A FÓRMULA DA FELICIDADE, editora Sextante, 2002.